O STATUS ATUAL DA MULHER NA SOCIEDADE: VIOLÊNCIA, AUTO IMAGEM E CIRURGIA PLÁSTICA

Nos últimos anos, testemunhamos uma notável evolução no papel das mulheres na sociedade, através da busca persistente por direitos iguais. As mulheres têm desafiado estereótipos e ingressado no mercado de trabalho em posições anteriormente dominadas por homens. Esse esforço trouxe equiparação salarial, melhores oportunidades educacionais e o direito de escolher livremente suas carreiras. Houve também conscientização sobre o assédio no local de trabalho e violência de gênero, promovendo discussões cruciais sobre a necessidade de um ambiente mais inclusivo. Embora desafios persistam, a evolução da mulher reflete um progresso contínuo em direção a uma realidade onde a igualdade de gênero seja efetivamente alcançada. Estamos caminhando para uma sociedade mais justa, tolerante e civilizada.

Mesmo assim, temos testemunhado muitos casos de violência contra as mulheres, sendo que três a cada dez brasileiras já foram vítimas de violência doméstica provocada por homens, de acordo com o Instituto DataSenado. O maior estudo já realizado no Brasil apontou que a violência psicológica é a mais recorrente (89%), seguida pela moral (77%), pela física (76%), pela patrimonial (34%) e pela sexual (25%). As mulheres com menor renda são as que mais sofrem violência física e, em termos de idade, a maior parte das vítimas vivencia a primeira agressão ainda muito jovem: entre 19-24 anos. Cerca de metade das agredidas (52%) sofreram violência praticada pelo marido ou companheiro, e 15%, pelo ex-marido, ex-namorado ou ex-companheiro.

A violência contra as mulheres é fenômeno complexo causado por vários fatores sociais, culturais e econômicos. A desigualdade de gênero desempenha um papel crucial, pois perpetua normas sociais que inferiorizam as mulheres e tornam-nas vulneráveis. A dependência financeira também é importante, pois faz com que muitas mulheres permaneçam em relacionamentos abusivos. Felizmente, temos visto muitos casos recentes de violência que foram punidos de forma exemplar, mostrando que a sociedade está cada vez mais intolerante e por isso disposta a mudar. A ordem é cada vez mais proteger as mulheres e garantir seus direitos fundamentais.

Apesar dessas evoluções, as relações entre homens e mulheres tornaram-se mais desafiadoras. Normas tradicionais de relacionamento têm sido afetadas por mudanças sociais e culturais com a busca por essa autonomia e igualdade de gênero, pressões econômicas, o ritmo acelerado da vida moderna e as demandas profissionais. Além disso, a tecnologia e as redes sociais aumentaram a falta de privacidade, o assédio e a exposição excessiva a padrões idealizados de relacionamento. Essa combinação de fatores levou a um infeliz aumento nas separações, afetando as famílias e a estrutura emocional das nossas crianças. Para uma mulher e mãe, o sofrimento de um filho é indubitavelmente um dos piores geradores de stress da psique humana.

A hipervalorização da beleza e imagem corporal sempre levou as mulheres a buscarem a paz com sua imagem no espelho e o reconhecimento dos seus pares. A tarefa não é simples, pois as exigências são altas e as pessoas podem ter traumas emocionais e abalos na sua estrutura psicológica. Um exemplo é o TDC (transtorno dismórfico corporal), doença psiquiátrica que gera constante insatisfação com a aparência física e pode estar associada a outras doenças mentais como a depressão, anorexia e transtornos de personalidade. Estudos realizados no Brasil mostraram uma prevalência alta de TDC em pacientes de rinoplastia (48%), cirurgia de face (58%), abdominoplastia (43%) e mamoplastia de aumento (69,4 %).

De forma infeliz, a estrutura da sociedade atual contribui decisivamente para a expressão dessas doenças e a consequente deterioração da saúde mental feminina. Há o incessante estímulo do consumo, o endeusamento de celebridades sem contribuição significativa para a sociedade e uma preocupante valorização do externo. Mais do que nunca, a “métrica da felicidade” tem sido constituída pelas roupas de grife, veículos de luxo e a superexposição de uma vida ilusoriamente perfeita nas redes sociais. A perfeição atlética, muitas vezes inatingível, sem naturalidade e frequentemente apresentada com fotos manipuladas por softwares de edição virou padrão de referência. Tudo para que haja aprovação dos outros, influxo de elogios e atenção. O fato inequívoco é que a humanidade nunca foi tão carente e frágil emocionalmente.

Essa tendência tem levado muitas mulheres a intenso sofrimento mental, insatisfação constante com a autoimagem e um aumento da demanda pela cirurgia plástica. Segundo os últimos dados da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), o Brasil é o segundo país do mundo na realização de procedimentos estéticos cirúrgicos e 85,7% do número total de procedimentos estéticos é realizado por mulheres. As cinco cirurgias plásticas mais procuradas são a mamoplastia de aumento, lipoaspiração, blefaroplastia, abdominoplastia, lifting mamário e rinoplastia. Considerando os últimos 4 anos, observou-se um aumento de 41,3% de procedimentos estéticos cirúrgicos e de 45,5% de procedimentos estéticos minimamente invasivos, como toxina botulínica, ácido hialurônico, e peeling.

O comportamento dos homens também merece intensa reflexão. É necessário resgatar o cavalheirismo, gentileza e educação, fazendo que as mulheres sejam tratadas de forma respeitosa e sem preconceitos. Que nos apaixonemos mais pela relevância de valores sólidos como caráter, companheirismo e afinidades do que pela superficialidade das curvas voluptuosas. Aquelas que o tempo inexoravelmente faz desaparecer. Que eduquemos nossos filhos para que sejam parceiros de suas mulheres, com cumplicidade, apoio e consideração. Somente assim continuaremos construindo uma sociedade mais justa entre os sexos.

Para o futuro, a sociedade necessita de uma radical inflexão, caracterizada pelo desenvolvimento espiritual, fortalecimento da psicologia interna e valorização dos aspectos realmente relevantes da vida. Aqueles capazes de oferecer de forma sólida uma sensação de satisfação, realização e serenidade. Como prega a cultura oriental, devemos interpretar o envelhecimento e a perda da estética com positividade, valorizando a sabedoria que o tempo nos oferece- com mais serenidade e paz. E felizes com a nossa imagem no espelho.